segunda-feira, 19 de maio de 2008

caminho com a saudade...

.: algumas lembranças me deixam confusa diante dessa falta. como eu tinha pouca idade, as vezes me pergunto, se realmente aconteceu, ou se eu estou aumentando ainda mais essa saudade. naqueles últimos dias em que visitei você, meu coração batia bem apertado aqui dentro, e as lágrimas caiam de tanta dor, dor de ser inútil naquele instante, de saber que nem se eu lhe desse a mão (como antigamente) você ficaria de pé, seria uma tentativa sem solução igual a de falar, dar bom dia, perguntar se está tudo bem e esperar uma resposta tua, você só respondia com os olhos, e seu olhar trazia muita tristeza, dor e despedida. nessas horas os pensamentos torturam, e o arrependimento é algo inevitável. mas chorei foi de saudade, em momento algum de arrependimento, porque você já faz falta e mesmo daquela forma difícil em que você estava vivendo, você estava ali presente, e eu com todo meu egoísmo ficaria feliz se por toda eternidade você continuasse ali, para que eu pudesse pelo menos resmungar algumas palavras, perguntar se você fez a barba, pedir a benção, ou perguntar do jogo de futebol que passou ontem na televisão. foram anos, entrando em casa e repetindo as mesmas palavras: sua benção! quando eu estava de saída gritava: sua benção! fica com Deus! e ouvia já bem baixinho, perto do portão: sua benção minha filha, vá com Deus! tanta saudade. gostava de sentar em seu colo, e pegar as balinhas de hortelã naquele bolso mágico, com balinhas e alguns trocados, que de vez em quando eu também ganhava pra comprar papel de carta. você passava o dia todo jogando dama comigo, me ensinou cada truque, e o mais importante sempre me deixava ganhar! e eu sempre acreditava e ficava toda orgulhosa achando que tinha aprendido tão bem, que nem você ganhava mais de mim. já fui atrás de você na praça, já briguei porque tinha tomado todo meu danoninho, já chorei porque tinha batido nos cachorros... sempre lhe dei a mão para ajudar a levantar da cadeira, sempre peguei um copo de água bem gelado pra você beber, sempre mudei o canal da televisão e deixei você assistir o jornal, ou seu futebol preferido. naquele dia, no hospital em que fiquei segurando sua mão e você abriu os olhos pra mim, soube que era temporário, e entendi que você voltaria apenas pra preparar um pouco mais nossos corações. descanse, como um grande homem merece. você se foi em paz, e deixou muita saudade. guardo na lembrança aquela nossa foto, em que coloquei uma peruca cabeluda na sua careca e um berimbau na sua mão... eu com aquela cara de muleca, e aquela saia ridícula de vaquinha. que saudade vovô, pra sempre saudade :.

descansou na quarta - 14/05/2008 23:00

7 comentários:

Anônimo disse...

Essa saudade de alguém que a gente sabe que não vai voltar a ver, acho, é a que mais dói. Você está certa quando fala em egoísmo: nós somos assim. Não queremos que alguém que amamos deixe nosso convívio diário, mesmo que aquilo custe a ela alguma dor. Mas, no fundo, não é egoísmo, é medo. Dói muito essa falta. E vai ser sempre falta. Mas, aos poucos, as lembranças boas vão preenchendo o lugar do sofrer e essa dor vira só saudade. Dessa que não passa, mas que é necessária para nos fazer entender o valor da vida.

Receba meu abraço, querida.

Beijos.

Bárbara Lemos disse...

Eu chorei.

Chorei por que perdi minha avó há pouco mais de um mês. E me senti um poço de egoismo por ter derramado tantas lágrimas e me desesperado. Ela sofria tanto... mas eu a amava. O amor mais egoísta, mas ainda sim, amor.

Ah, que saudade....

Beijo meu, moça.

Bárbara M.P. disse...

Olá, querida.
Espero que esteja tudo bem agora.

Lindo o que nos contou sobre as coisas aprendeu com ele.. pequenos truques de criança, grandes valores, respeito mútuo. Não há lição melhor que um avô possa ensinar à um neto, Ana. Aliás, não há lição nesse mundo melhor do que a arte de amar.

De onde estou, não posso fazer muito, mas deixo aqui um beijo bem carinhoso e te digo sem medo nenhum de errar que seu avô está em algum lugar desse universo agora,lhe dando mais uma vez a benção e desejando como nunca que fique com Deus.

:: Daniel :: disse...

Também perdi meu avô recentemente, meses atrás.

Deixo aqui o meu abraço sincero.

Bjos

Narradora disse...

Eu acho que com o tempo a saudade vai mudando de forma. Ao invés de ser aquela mão que aperta o coração, vira lembrança, daquelas que fazem a gente sorrir sozinha...Mesmo quando deixa um amargo lá longe, aquece a alma.
Bjs

Amanda Beatriz disse...

que foda! minha vó morreu há um ano e meio, mas sempre que lembro dá vontade de chorar, assim como seu texto acabou de fazer!
que ele descanse em paz!
beijos!

Carolina de Castro disse...

Como estão as coisas?
Vim aqui ler o que tinha escrito..
Volta a escrever pra gente aqui!
=P
Bjos